A ilha do Fogo é a quarta maior ilha de Cabo Verde com uma superfície de 476 km2. Segundo o modelo da administração adoptado da época colonial a ilha foi dividida religiosamente em quatro freguesias e ou Paróquias: Nossa Senhora da Conceição, São Lourenço, Nossa Senhora de Ajuda e Santa Catarina. Em termos políticos e administrativos, mais recentemente, foi dividida, em três concelhos: São Filipe, Mosteiros e Santa Catarina. E, actualmente, a ilha possui três cidades: cidade de São Filipe – em S. Filipe, cidade da Vila de Igreja – nos Mosteiros e cidade de Cova Figueira – em Santa Catarina.
Trata-se de uma ilha circular, localizada no Sudoeste do arquipélago, com uma topografia que apresenta formas de relevo saliente, diferente das demais ilhas que compõem o arquipélago. Na região central da ilha existe um vulcão ainda activo, com 2.829m de altitude. Pode dizer-se que o vulcão constitui o seu cartão postal.
Aspectos Históricos
A ilha do Fogo foi "achada" no dia 1 de Maio de 1460, juntamente com a de Santiago pelos navegadores António de Noli, italiano, ao serviço do rei de Portugal, e Diogo Gomes, português, no reinado do Infante D. Henrique. Alguns documentos mostram indícios de que Cabo Verde já havia sido visitado por povos da costa ocidental africana, mormente os jalofos. Mostram também que o arquipélago já teria sido conhecido por outros povos antes dos portugueses. Todavia, o que prevalece oficialmente, – e que é possível provar – é que foram os portugueses, os primeiros a descobrirem-no (achamento – 1460) e os primeiros a ai fixarem (povoamento – a partir de 1461/62).
Relativamente à ilha do Fogo o documento mais antigo que se conhece é o de 03 de Dezembro de 1460 em que o então rei de Portugal D. Afonso V doou ao Infante D. Fernando as ilhas do Atlântico, identificadas na altura, onde estava incluída a de Sam Felipe, o primeiro nome da ilha do Fogo. Mais tarde, mesmo no início do século XVI, devido à erupção vulcânica, a ilha passou a ser chamada de ilha do Fogo (Valentim Fernandes, 1508).
O povoamento do arquipélago começou pela ilha de Santiago. De acordo com a Carta Régia datada de 12 de Junho de 1466, o povoamento de Santiago iniciou-se a partir de 1461/62 com povos vindos da Europa e da Costa Ocidental africana. A ilha do Fogo foi a segunda a ser povoada e o seu povoamento situa-se entre 1480 a 1493. Aceitamos essa data tendo em conta que em 1480 o mercador francês Eustache de la Fosse tinha passado por Cabo Verde e diz-nos que as ilhas são dez e apenas uma era habitada, referindo-se obviamente à de Santiago. Já em 1493 foram enviados objectos do culto divino e uma parte era destinada à Igreja de São Filipe na ilha do Fogo. De acordo com Ilídio Cabral Baleno "a iniciativa do povoamento do Fogo parte livremente dos moradores de Santiago". O povoamento da ilha do Fogo processou-se em quatro etapas: 1ª São Filipe, hoje cidade de São Filipe, no final do século XV e inicio do século XVI; 2ª São Lourenço do Pico, actual freguesia de São Lourenço, no inicio do século XVI; 3ª Mosteiros, a partir do século XVII e 4ª Santa Catarina, século XIX. De acrescentar que, no povoamento da ilha participaram povos vindos de Santiago, da Costa Ocidental Africana e da Europa. Seu povoamento iniciou-se pela região de São Filipe e acredita-se que as primeiras construções edificadas no Fogo sugiram no espaço onde foi construído o cemitério denominado "cemitério de baixo", ao lado da ribeira de Nhô Jerónimo, na sobrancelha da praia de Fonte-vila (1º porto da Cidade de São Filipe). Hoje, para se encontrar as ruínas das primeiras construções exige-se dos interessados um trabalho redobrado. Todavia, há que destacar o meritório trabalho da investigadora Gilda Barbosa que tem batalhado incansavelmente com objectivo de colocar à disposição dos estudiosos documentos e dados que nos permitem trabalhar com mais segurança e desmitificar mitos e inverdades construídos no e sobre Fogo ao longo da história. O primeiro núcleo foi se expandindo, atravessando a Ribeira de Nhô Jerónimo chegando ao Fortim Maria Carlota, à pracinha da actual Igreja Matriz, dedicada à Nossa Senhora de Conceição, alargando até ao espaço hoje denominado praça do presídio. Com o andar do tempo, criou-se um espaço populacional denominado "Bila Baixo", ou centro histórico da Cidade de São Filipe." Bila Baixo" é uma expressão usada, porque com a expansão do povoamento dentro de São Filipe criou-se um novo espaço com características diferentes das do centro histórico denominado "Bila Riba", separados por um paredão no Alto São Pedro.
No início do século XVI com o desenvolvimento do comércio entre Portugal, ilha de Santiago e Costa Ocidental da África e, no intuito de incrementar a actividade agrícola começou a ocupação das regiões agrícolas em São Lourenço do Pico, o primeiro espaço agro-pecuário da ilha do Fogo. As regiões de Monte Tabor, As-hortas, Pico Pires, Serrados, Pico Gomes… começaram a receber os primeiros cultivos de algodão, urzela, vinha etc. Ainda no início do século XVI, de acordo com os apontamentos de Monique Widmer, a ilha do Fogo "apresentava-se como grande produtora de algodão, com fabrico artesanal de panos, produção agrícola, gado, criação de cavalos… muitos navios estrangeiros por ali passavam… comércio activo, sobretudo com a Costa da Guiné, onde, em troca, adquiria-se mão-de-obra escrava para as lavouras".
Depreende-se que, a partir do século XVI, a ilha do Fogo passou a ter dois espaços bem definidos: São Filipe, encarado como espaço político-administrativo e São Lourenço do Pico como espaço agro-pecuário. Graças aos produtos agro-pecuários produzidos na região de São Lourenço do Pico, a ilha do Fogo manteve uma forte relação comercial com a ilha de Santiago, Costa Ocidental da África e Portugal. Nessa relação comercial Fogo, Santiago Costa Ocidental Africana e Portugal a ilha do Fogo não teve a mesma sorte que a sua vizinha ilha de Santiago. Se não Vejamos: Enquanto para Santiago os lucros dessa rede comercial era investido na ilha, no Fogo o lucro revertia-se a favor de Santiago e da Coroa portuguesa. Essa medida afectou grandemente o progresso da ilha nos seus primeiros momentos de povoamento. Entretanto, apesar desse constrangimento verificado, a ilha do Fogo deu passos significativos ao estabelecer relações comerciais com Santiago e Costa Africana, utilizando como mercadoria principal algodão, e com o Brasil embora, em menor escala, o comércio do vinho. Até meados do século XVIII o vinho do Fogo era exportado para o Brasil. Foi também nesse século que Marquês de Pombal, com objectivo de proteger as vinhas do Alto Douro, mandou ordenar, primeiro, a proibição de exportação do vinho para o Brasil e, no geral, para o estrangeiro, e depois, a pura e simples destruição de todas as cepas na ilha.
Escusado dizer que essa medida brusca mexeu, sobremaneira com a dinâmicada economia do Fogo e de Cabo Verde. A situação sócio-económica do Fogo complicou-se ainda mais nesse período com o povoamento das ilhas de São Vicente e do Sal. Pois, o povoamento de São Vicente e a forte dinâmica do Porto Grande atraíram a atenção do então governo e a ilha do Fogo foi, simplesmente, abandonada.
Com a introdução do café no final do século XVIII, na região do Monte Queimado, no Concelho dos Mosteiros e com o restabelecimento do comércio de vinho com o Brasil nos meados do século XIX a ilha começou a ressurgir em temos económicos. Entretanto, a primeira metade do século XX foi marcada por vários períodos de fomes e seca como por exemplos: 1903-1904; 1941-1943 e 1947-1948 etc.
Trata-se de uma ilha com forte tradição cultural ligada às festas de romaria tais como as de: São Sebastião (20 de Janeiro); São João (24 de Junho); São Pedro e São Paulo (29 de Junho); São Filipe (1 de Maio) entre outras. Reconhecida também como ilha dos sobrados a partir de 1910.
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